terça-feira, 24 de novembro de 2009

Crônica Narrativa

"EU E BEBU NA HORA NEUTRA DA MADRUGADA", Rubem Braga

"Muitos homens, e até senhoras, já receberam a visita do Diabo,e conversaram com ele de um modo elegante e paradoxal. Centenas de escritores sem assunto inventaram uma palestra com o Diabo. Quanto a mim, o caso é diferente. Ele não entrou subitamente em meu meu quarto, não apareceu pelo buraco da fechadura, nem sob a luz vermelha do abajur. Passou um dia inteiro comigo. Descemos juntos pelo elevador, andamos pelas ruas, trabalhamos comemos juntos.
A princípio confesso que estava um pouco inquieto. Quando fui comprar cigarros, receei que ele dirigisse algum galanteio baixo à moça da tabacaria. É uma senhorinha de olhos de garapa e cabelos castanhos muito simples, que eu conheço e me cenhece, embora a gente não se cumprimente. Mas o Diabo se portou honestamente. O dia todo - era um sábado - correu sem novidade. Ele esteve ao meu lado na mesa de trabalho, no restaurante, no engraxate, no barbeiro. Eu lhe paguei o cafezinho; ele me pagou o bonde.
À tarde eu já não o chamava de Belzebu, mas apenas de Bebu, e ele me chamava de Rubem. Nossa intimidade caminhava rapidamente, mesmo sem a gente esperar. Quando um cego nos pediu esmola, dei duzentos réis. É meu hábito, sempre dou duzentos réis. Ele deu uma prata de dois mil-réis, não sei se por veneta ou porque não tinha mais miúdo. Conversamos pouco, não havia assunto.
À noite, depois do jantar fomos ao cinema... Outra vez me voltou a inquietude, que sentira pela manhã. Por coincidência, ele ficou sentado junto a duas mocinhas que eu conhecia vagamente, por serem amigas de uma prima que tenho no subúrbio. Temi que ele fosse inconveniente; eu ficaria constrangido. Vigiei-o durante a metade da fita, mas ele estava sossegado em sua cadeira; tranquilizei-me. Foi então que eu reperei que ao meu lado esquerdo sentara-se uma rapariga que me pareceu bonita. Observei-a na penumbra. A sua pele era morena, e os cabelos quase crespos. Sentia a tepidez de seu corpo. Ela acompanhava a fita com muita atenção. Lentamente, toquei o seu braço com o meu; era fácil e natural; isto sempre acontece com as pessoas que estão sentadas juntas no cinema. Mas aquela carícia banal me encheu as veias de desejo. Suavemente, deslizei a minha mão para a esquerda. Achei -a linda e tive a impressão de que ela sentia como eu estava emocionado, e que isto lhe dava prazer.
Mas neste momento, ouço um pequeno riso e reviro-me. Bebu está me olhando. Na verdade não está rindo, está sério. Mas em seus olhos há uma qualquer malícia. Envergonhei-me como uma criança. A fita acabou e não falamos do incidente. Eu fui para o jornal fazer o plantão da noite.
Só conversamos à vontade pela madrugada. A madrugada tem uma hora neutra que há muito tempo observo. É quando passo a tarde toda trabalhando, e depois ainda trabalho até a meia-noite na redação. Estou fatigado, mas não me agrada dormir. É aí que vem, não sei como, a hora neutra. Eu e Bebu ficamos diante de uma garrafa de cerveja num bar qualquer. Bebemos lentamente sem prazer e sem aborrecimento. Na minha cabeça havia uma vaga sensação de efervecência, alguma coisa morna, como um pequeno peso. Isto sempre me acontece: é a madrugada, depois de um dia de trabalheiras cacetes. Conversamos não me lembro sobre o quê. Pedimos outra cerveja. Muitas vezes pedimos outra cerveja. Houve um momento em que olhei sua cara banal, eu ar de burocrata avariado, e disse:
- Bebu, você não parece o Diabo. É apenas, como se costuma dizer, um pobre-diabo.
Ele me fitou com seus olhos escuros e disse:
Um pobre-diabo é um pobre Deus que fracassou.
Disse isto sem solenidade nenhuma, como se não tivesse feito uma frase. De repente me perguntou se eu acreditava no Bem e no Mal. Não respondi; eu não acreditava.
Mas a nossa conversa estava ficano ridícula. Desagradava-me falar sobre esses assuntos vagos e solenes. Disse-lhe isto, mas ele não deu a nemor atenção. Grunhiu apenas:
-Existem.
Depois, afrouxou o laço da gravata e falou:
Há o Bem e o Mal, mas não é como você pensa. Afinal quem é você? Em que você pensa? Com certeza naquela moça que vende cigarros, de olhos de garapa, de cabelo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Filme: O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias



    Dirigido por Cao Hamburger o filme conta a história de um garoto, Mauro, que aos 12 anos, com o sonho de ver a seleção brasileira ser tricampeão mundial, assistiu seus pais fugirem de casa por estarem sendo perseguidos pelos militares.
    Sendo assim, o garoto foi levado de Belo Horizonte para São Paulo e obrigado a viver em uma comunidade que abrigava vários povos.

     Enquanto aguardava ligações dos pais e tentando se adaptar a nova realidade, uma alegria tomava conta do coração de Mauro ao acompanhar o desempenho da seleção brasileira.
     Uma história emocionante. Confiram!

Conto

Organiza o Natal

Carlos Drummond de Andrade


    Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.
    Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.
   Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.
    A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.
    A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.
    Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.
    O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.
    Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.
    A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.
    O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.
    E será Natal para sempre.


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Campanhas Criativas

Paráfrase!

Texto I:
“O teatro, longe de ser apenas veículo da peça, instrumento a serviço do autor e da literatura, é uma arte de próprio direito, em função da qual é escrita a peça. Esta, em vez de servir-se do teatro, é ao contrário material dele. O teatro a incorpora como um de seus elementos. O teatro, portanto, não é literatura, nem veículo dela. É uma arte diversa da literatura. O texto, a peça, a literatura enquanto meramente declamados tornam-se teatro no momento em que são representados, no momentos, portanto, em que os declamadores, através da metamorfose, se transforma em personagens. A base do teatro é a fusão do ator com a personagem, a identificação de um eu com outro eu - fato que marca a passagem de uma arte puramente temporal e auditiva (a literatura) ao domínio de uma arte espaço-temporal ou audiovisual. O status da palavra modifica-se radicalmente. Na literatura são as palavras que medeiam o mundo imaginário. No teatro são os atores/personagens (seres imaginários) que medeiam a palavra. Na literatura a palavra é a fonte do homem (das personagens). No teatro o homem é a fonte da palavra." ROSENFELD, Anatol. Prismas do teatro. Ed Perspectiva, pp. 22-3.


Paráfrase:
“A base do teatro é a fusão do ator com a personagem. O teatro, não é literatura. O texto, a peça, a literatura tornam-se teatro no momento em que são representados.
Na literatura a palavra é a fonte do homem (das personagens). No teatro o homem é a fonte da palavra."


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Texto II:

"Ergui-me, tateei a roupa no encosto da cadeira, tirei dos bolsos cigarros e fósforo, debrucei-me à janela, fiquei longamente a olhar o pátio escuro, fumando. Como iria comportar-me? Se me dessem tempo suficiente para refletir, ser-me ia possível juntar idéias, dominar emoções, ter alguma lógica nos atos e nas palavras, exibir a aparência de um sujeito mais ou menos civilizado. Mas na situação nova que me impunham, fervilhavam as surpresas, e diante delas ia decerto confundir-me, disparatar, meter os pés pelas mãos. Ali em baixo, a alguns metros de distância dois vultos ladeando um portão semelhavam pessoas embuçasdas, gigantes embuçadas. Que seriam: Pilates? Deveriam ser pilates. Afastei-me passeei cauteloso, abafando os passos, temendo esbarrar nas cadeiras." RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. José Olympio, 1º vol., p.52.

Paráfrase:
“Levantei, me vesti, fiquei na janela olhando o pátio escuro e fumando. Se me dessem tempo para refletir seria possível dominar emoções e exibir a aparência de um sujeito civilizado, mas a situação me deixava confuso.
A alguns metros de distância vi dois vultos, cauteloso afastei-me em silêncio.”

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

PLACAR


Hino, campo, juiz, apito, inicio, jogador, bola, técnico, gritos, passe, drible, corre, corre, corre, passe, corre, UHHHHH , trave, goleiro, bola, corre, chute, drible, OLÉÉÉ, passe, corre, chute, cai, corre, adrenalina, emoção, chute, GOOOOL! Torcedores, gritos, comemoração.


1x0

Juiz, apito, intervalo, água, técnico, ordens, estratégia.Juiz, apito, 2° tempo, campo, bola, jogador, corre, corre, chute, bandeirinha, falta, stress, corre, chute, goleiro, GOOOOL! Torcedores, gritos, comemoração.



1x1

Acréscimo, tensão, esperança, virada, jogador, corre, jogador, drible, corre, chuta, GOOOOL!Juiz, apito, FIM DE JOGO.
2x1

ei!

Blog criado só para postar os trabalhos de português.
Afinal, preciso de nota!! =D